Al-Sudani é o favorito para ser reconduzido nas eleições no Iraque

  • 09/11/2025

Para a votação, a sexta desde a queda do ditador iraquiano Saddam Hussein em 2003, estão inscritos mais de 21,4 milhões de eleitores, num universo de cerca de 46 milhões de iraquianos.

 

Os eleitores irão escolher entre mais de 7.700 candidatos, um terço deles mulheres, que têm direito a ocupar pelo menos 25% dos assentos parlamentares, e nove reservados às minorias.

A Constituição do Iraque, aprovada por referendo em 2005, estabeleceu o país como uma democracia parlamentar, com o Conselho de Representantes como órgão legislativo eleito.

Teoricamente, o Conselho nomeia o Presidente da República, função meramente cerimonial, que, por sua vez, nomeia um primeiro-ministro proveniente do "maior bloco" parlamentar. Contudo, esse bloco não é necessariamente o que obteve mais assentos nas urnas, mas sim a coligação mais ampla formada após as eleições. O processo de formação do governo envolve longas negociações e compromissos entre partidos.

Embora o sistema não divida explicitamente o poder por etnia ou religião, na prática continua profundamente moldado pela ordem etnosectária institucionalizada após 2003.

A política ficou ligada à identidade: os xiitas votam sobretudo em partidos xiitas, os sunitas em partidos sunitas e os curdos nas suas próprias formações regionais.

Segundo um acordo informal vigente desde 2005, o primeiro-ministro deve ser xiita, o Presidente curdo e o presidente do parlamento um árabe sunita.

Às legislativas de terça-feira, cuja taxa de abstenção, segundo as sondagens, deverá ser inferior à registada na votação de 2021 (41%), concorrem 31 alianças, 38 partidos políticos e 75 candidatos independentes, divididos entre cinco fações xiitas, a maioria próximas ideologicamente do Irão que nas últimas eleições concorreram integrando o Quadro de Coordenação Xiita (SCF, na sigla inglesa), elegendo Al-Sudani mas que, agora, apresentam-se separadamente.

Num discurso transmitido pela televisão na sexta-feira, Al-Sudani exortou os iraquianos a participarem ativamente no escrutínio, destacando que as eleições pertencem ao povo e que o seu voto constitui a base do processo democrático do Iraque.

"Fornecemos tudo o que é necessário para o processo eleitoral, cumprindo o nosso dever com profissionalismo e uma sincera responsabilidade nacional", afirmou o primeiro-ministro cessante.

"Estas eleições são propriedade do povo --- a vossa voz é a base da democracia e vocês são os decisores", reforçou.

Renad Mansour, investigador sénior do Programa do Médio Oriente e Norte de África da Chatham House, defendeu, num artigo publicado na quarta-feira, que, apesar de a coligação de partidos xiitas concorrer separadamente, é de esperar que se volte a unir após as eleições para tentar formar o maior bloco parlamentar. 

O SCF, contudo, enfrenta a oposição do influente clérigo xiita Muqtada Sadr, cujo movimento já defendeu o boicote ao sufrágio, embora esteja por esclarecer a atual dimensão da sua influência.

O escrutínio abrange também a região autónoma do Curdistão, onde a histórica rivalidade entre o Partido Democrático do Curdistão (PDK) e a União Patriótica do Curdistão (UPK) continua viva, com a Turquia atenta, pois é parte interessada num contexto regional em que combate a hegemonia de Teerão.

Na opinião de Mansour, as eleições iraquianas são acompanhadas de perto pelos países vizinhos e pelas potências internacionais, uma vez que o Iraque é um ponto de equilíbrio estratégico entre o Irão, os Estados Unidos, a Turquia e os países árabes do Golfo.

Para o Irão, o Iraque é um pilar fundamental do seu eixo de influência xiita na região, que se estende até à Síria e ao Líbano.

Teerão procura garantir que o Governo iraquiano permaneça amistoso e que as forças norte-americanas não aumentem a sua presença no país.

Os Estados Unidos, por sua vez, mantêm tropas em território iraquiano no âmbito da coligação internacional contra o Estado Islâmico.

Washington afirma apoiar um Iraque soberano e estável, mas continua a ver o país como terreno de contenção da influência iraniana. As relações entre Bagdad e Washington são, por isso, frequentemente marcadas por tensões.

A Turquia segue as eleições com atenção devido às operações militares que manteve no norte do Iraque contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), entretanto em processo de dissolução e desarmamento, e ao papel do Curdistão iraquiano nas exportações de petróleo.

Ancara procura garantir que o novo Governo em Bagdad mantenha a cooperação económica e de segurança.

Os países árabes do Golfo, em particular a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, têm procurado reforçar laços diplomáticos e económicos com Bagdad, vendo o Iraque como possível ponte entre o mundo árabe e o Irão, sobretudo num contexto de reaproximação regional.

Mais a mais, as eleições iraquianas decorrem num dos momentos mais delicados do Médio Oriente em anos.

"As eleições de 2025 representam mais um capítulo num processo que alterna entre esperança e desencanto. Num país marcado por guerras, divisões sectárias e crises de confiança, o desafio é transformar as urnas num verdadeiro veículo de renovação política", sublinhou ainda Mansour, para quem o futuro da democracia iraquiana depende de transformar eleições em algo mais do que rituais de poder.

"Se a competição eleitoral continuar a servir apenas para redistribuir lugares entre as elites, a apatia e a desconfiança popular tenderão a aprofundar-se. Mas se, pelo contrário, surgirem sinais de abertura, transparência e responsabilização, mesmos modestos, o Iraque poderá iniciar um lento caminho de reconstrução democrática", concluiu o investigador.

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FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2885358/al-sudani-e-o-favorito-para-ser-reconduzido-nas-eleicoes-no-iraque#utm_source=rss-mundo&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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