Arquiteto defende "rigor" na construção após tragédia em Hong Kong
- 12/12/2025
"Não basta ter a proteção legal de um certificado que diz que a rede é à prova de fogo, é muito importante ter a segurança adequada de que esses diferentes materiais de construção são realmente testados", afirmou Nuno Soares, em declarações à Lusa.
Soares, que também é diretor do Departamento de Arquitetura e Design da Universidade de São José em Macau, enfatizou que a segurança deve ir além da burocracia: "para que a indústria no seu todo amadureça e se torne mais segura, é muito importante que testemos mais".
O incêndio que deflagrou no norte de Hong Kong, no complexo residencial Wang Fuk Court, em 26 de novembro, atingiu sete de oito edifícios, cujas fachadas estavam a ser alvo de obras de reparação. Investigações preliminares indicam que o fogo teve origem na rede de proteção dos andaimes nos pisos inferiores e propagou-se rapidamente na vertical.
Embora a causa do incêndio não tenha sido o bambu, a tragédia intensificou um debate já existente em Hong Kong sobre o futuro dos icónicos andaimes feitos deste material tradicional.
"Em Hong Kong, já havia uma discussão (...) no sentido de substituir os andaimes de bambu", observou Soares, reconhecendo que a tragédia tem servido de catalisador para uma reavaliação. No entanto, o arquiteto alertou contra uma reação simplista.
Nuno Soares defende uma avaliação justa e rigorosa de um sistema bem estabelecido. "O andaime de bambu está bastante bem adaptado a Macau e a Hong Kong", explicou, apontando para os desafios urbanos únicos de ambos os territórios. "São tecidos urbanos muito densos, com ruas muito estreitas e tufões."
Em Macau, o subdirector de Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana, Mak Tat Io, quando questionado, na semana passada, sobre a manutenção do bambu após o incêndio em Hong Kong, disse que "vai manter uma atitude aberta, dialogando com a indústria e a comunidade para construir um consenso antes de implementar medidas relevantes".
Num trabalho da Lusa sobre o bambu publicado antes deste incêndio, as autoridades disseram não ter planos de retirar as canas na cidade, onde a montagem de andaimes com este material está inscrita desde 2017 no inventário do património intangível cultural local.
Nuno Soares também relembra as vantagens dos andaimes de bambu: uma estrutura leve e flexível que pode ser montada rapidamente, ocupa uma área na base menor e tem maior capacidade de suportar ventos fortes do que as armações metálicas.
"Devemos sempre usar o que for mais seguro, o que fizer mais sentido para a utilização pretendida", notou, propondo uma abordagem híbrida. O metal adequa-se a novas áreas de desenvolvimento urbano espaçosas, enquanto o bambu é prático em áreas densas, continuou.
Além disso, acrescentou, "é difícil o bambu pegar fogo". A camada exterior do bambu é retardadora de chamas, embora possa eventualmente arder. O maior risco, identificou, são os materiais auxiliares: "as tiras de plástico que os ligam ou a rede de plástico que os cobre (...) essa sim, é bastante inflamável."
Para Nuno Soares, a verdadeira segurança requer uma visão holística. "Tem a ver com o material em si, com a técnica, com o cuidado dos trabalhadores (...) e com os materiais que o acompanham", referindo-se ao conjunto de elementos que acompanham a utilização do bambu em estruturas de apoio à obra e andaimes.
Não obstante, o arquiteto reconhece a existência de protocolos de segurança para as empresas de bambu, mas insiste: "nunca é demais, precisamos mesmo de melhorar estes protocolos para tornar a construção segura no futuro".
Alertou também para o perigo de se ignorar os riscos potenciais das alternativas, como os andaimes metálicos pesados, que se desabarem num tufão, podem representar um perigo significativo para os edifícios à volta - um risco menos pronunciado no caso do bambu.
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