Casa de vidro construída com 200 mil garrafas recolhidas em praia de Maputo

  • 08/12/2025

As mais de 200 mil garrafas inteiras ou compactadas que cobrem a casa de vidro, maioritariamente castanhas, verdes e transparentes, estavam espalhadas e enterradas nas dunas, dentro das florestas, mas também "ao longo dos caminhos" da Macaneta, uma área ainda parcialmente natural a cerca de 30 minutos de Maputo.

 

"Foi com esse vidro que nós construímos a casa. Foram usadas cerca de 200 mil garrafas. É um número por baixo porque creio que se formos a considerar a estimativa de utilização do vidro compactado nas fundações, o número poderá ser um pouco maior", conta à Lusa Carlos Serra, ambientalista moçambicano de 52 anos.

Com a casa, o também diretor da Cooperativa de Educação Ambiental Repensar, professor, investigador e ativista, quis, primeiro, "dar um destino ao vidro", um material milenar e "super incrível em termos de potencial" e, em segundo, "educar depressa" sobre o impacto do material para o ambiente.

"No início do projeto, a nossa preocupação foi limpar a praia e a praia tinha grandes quantidades de vidro. Portanto, não havia nenhum sistema de limpeza", refere o professor.

O Centro de Educação Ambiental - Ecocentro, mais conhecido como casa de vidro ou casa de garrafa, começou a ser construído em 2021, com cerca de um milhão de meticais (13.450 euros), e combina "padrões convencionais e tradicionais" para resistir "aos ventos mais fortes".

A casa de vidro é também composta por paredes temáticas para alertar as empresas produtoras e importadoras de bebidas alcoólicas sobre as suas responsabilidades, diz, considerando que muitas "nada fazem pelo ambiente".

"Infelizmente, 99% do que aqui está é de facto bebida alcoólica. São embalagens de bebidas alcoólicas e algumas destas empresas, quase todas, com exceção de uma, nada fazem pelo ambiente, pela retoma, pela economia circular, pelos catadores, absolutamente nada", queixa-se o ativista, que interrompe momentaneamente a conversa para apanhar uma garrafa de álcool atirada ao chão.

Passados cinco anos, a casa piloto ainda resiste e acolhe um programa de inclusão para ocupar os tempos livres de cerca de 170 crianças de Macaneta, após a escola, com, entre outras, atividades lúdicas, leitura, ações de limpeza, plantio de árvores e desporto.

"Então o nosso grande objetivo no final do dia é que cada uma destas crianças possa prosseguir os estudos, não abandone [a escola] porque lá fora os desafios são grandes e muitas abandonam para a pesca (...) casamentos precoces, abandonam para pequenos biscates ou simplesmente para ajudar em casa", explica.

"O nosso grande trabalho também com os encarregados de educação é garantir que essas 160, 170 crianças consigam estudar até ao fim", acrescenta o responsável, que dá também aulas de defesa pessoal às crianças.

Carlos quer um ecocentro com "forte componente ambiental", mas também social, até porque considera que "não há nenhum sucesso numa abordagem ambiental ou climática sem o envolvimento, sem o engajamento, sem a inclusão das pessoas".

Com a casa, as garrafas da Macaneta tiveram, finalmente, um destino, enquanto não existem em Moçambique empresas de reciclagem do vidro, outra das queixas de Carlos Serra, que quer transformar aquela praia num modelo e exemplo de limpeza.

Por agora, a casa de garrafas está a ser "bastante visitada" porque se tornou referência para Marracuene e está no roteiro desenhado pelas autoridades locais dos lugares a visitar naquele município, além de receber também estudantes e alunos.

"Nós procuramos, acima de tudo, que as pessoas compreendam que há um mundo para além daquele que eles conhecem (...). Através desta casa, nós promovemos, acima de tudo, cidadania (...) princípios, valores e uma forma de amar o próximo que faz muita falta hoje em dia em Moçambique", conta o ativista.

O ambientalista não tem "nenhuma ambição pessoal" e sequer pretende ganhar dinheiro com o projeto, mas gostava, pelo menos, de ganhar na lotaria para levar mais casas de vidro para as outras províncias de Moçambique.  

"No dia em que eu tivesse, se eu ganhasse a lotaria, eu não tenho dúvidas nenhumas que viveria para isso", diz Carlos Serra.

Leia Também: Sete mortos em acidente em Moçambique. Chapo pede "condução prudente"

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2901054/casa-de-vidro-construida-com-200-mil-garrafas-recolhidas-em-praia-de-maputo#utm_source=rss-mundo&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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