"É sistemático". Rússia envia soldados com deficiências para a guerra
- 07/11/2025
A Rússia está a enviar homens com deficiências psíquicas para a linha da frente da guerra com a Ucrânia. Estes soldados, quase forçados a vestir o uniforme e a brandir uma arma, não conseguem muitas vezes compreender onde estão ou o que está a acontecer ou sequer comunicar com os colegas e superiores à sua volta.
Quem o diz é o Telegraph, numa reportagem onde cita membros de altos cargos do exército ucraninano e situações que os próprios presenciaram.
Um comandante de Kyiv, que falou sob condição de anonimato, disse ao mesmo meio que tinha conhecimento pessoal de dois casos de russos com deficiências mentais, que foram enviados para a linha da frente do combate.
Um delas era Semyon Karmanov, um homem de 27 anos, diagnosticado com uma "deficiência intelectual com distúrbios comportamentais significativos, que requerem cuidados e tratamento", afirmou o comandante. Devido à sua doença, Karmanov nunca conseguiu ler ou escrever.
Mesmo assim, após os exames médicos, o exército declarou-o apto para serviço e enviou-o para um campo de treino em Luhansk (zona ucraniana ocupada por Moscovo), com uma identificação que o incubia do cargo de "condutor". A mãe de Karmanov, mais tarde, revelou que o filho não sabia conduzir.
O jovem morreu este outono, após sofrer um ferimento na cabeça, na linha da frente da guerra.
O envio de soldados com deficiências é "sistemático"
Casos como este não surgem isolados. Aliás, segundo o diretor-executivo do Centro Ucraniano de Segurança e Cooperação (USCC), Dmytro Zhmailo, estas situações são mesmo "bastante sistemáticas".
"Devido à necessidade de mão de obra, num contexto de elevadas perdas no exército, a Rússia é forçada a recrutar cidadãos, independentemente da sua saúde ou deficiências físicas", revelou o especialista em política militar.
Assim foi também com Alexey Vachrushev. Ao contrário de Karmanov, este jovem de 22 anos tinha sido considerado inapto para o serviço (também devido a uma deficiência mental) e, por isso, até recentemente nunca tinha entrado diretamente no conflito.
Foi só este ano que a situação mudou, quando polícias russos abordaram e pressionaram o jovem, que se encontrava preso, a assinar um contrato com o exército.
Esta tática inclui "tanto prisioneiros de prisões russas que têm grupos de deficientes com doenças crónicas, como civis russos que, apesar de terem problemas de saúde, concordam em assinar um contrato com o Ministério da Defesa russo, muitas vezes sob pressão", explicou Zhmailo, dizendo que estes homens muitas vezes não percebem o que está a acontecer à sua volta.
Alexey - que tinha passado grande parte da sua vida em cuidados psiquiátricos e que fez todo o seu percurso escolar numa instituição para crianças com dificuldades de desenvolvimento - acabou por ser enviado para a linha da frente do conflito, após ter tentado fugir do posto que inicialmente lhe tinha sido atribuído.
O paradeiro de Alexey é desconhecido, atualmente.
Há ainda o caso de Artyom Radaev, de 22 anos, diagnosticado, igualmente, com uma deficiência psíquica desde criança, sendo, mesmo assim enviado para a frente de combate. Poucos dias depois, desapareceu perto de Horlivka (cidade em Donetsk, na Ucrânia).
A mãe do jovem veio, mais tarde, a reconhecer o filho numa fotografia de soldados que tinham sido amarrados a uma árvore pelos próprios colegas como punição por se recusarem a lutar.
Apesar dos repetidos apelos para obter informações sobre Artyom, Galina continua sem saber onde ou como está o filho.
Soldados são vistos como "ferramentas" por Moscovo
O coronel Oleksandr Zavtonov, da marinha ucraniana, disse ao jornal que estas situações estavam dentro daquilo que é normal para Moscovo: "Para os russos, isto é a norma - eles lutam sempre assim, sem darem valor à vida humana".
Já Anna, o contacto do Telegraph no exército ucraniano, contou que, neste momento, a guerra já não é uma de estratégia, mas sim do número de forças no terreno.
"Somos mais habilidosos se compararmos o nosso soldado médio com o deles. Temos tecnologia ligeiramente melhor; eles têm uma produção muito melhor. A diferença está nas ondas incessantes de ajuda" militar que é enviada para o terreno, considerou Anna.
"Cada soldado", acrescentou, "é uma ferramenta para conquistar território ou morrer a tentar, e melhor ainda se nos [ucranianos] levarem com eles. O Kremlin não vê a sua infantaria como seres humanos, mas como objetos."
Afirmações que vão de encontro ao que foi dito ainda esta semana, por Ruslan, um soldado russo, num vídeo que partilhou nas redes sociais. No desabafo, o militar revelou que os recrutas que são enviados para a linha da frente morrem quase imediatamente. Só na sua unidade, disse, houve 90% de baixas.
"Eles recrutam pessoas que não sabem nada - gastam milhões neles. Eles chegam e quase imediatamente morrem", contou. "Restam seis de nós: éramos 70, agora somos seis", acrescentou o soldado.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia teve início em fevereiro de 2022, após uma invasão terrestre de Moscovo ao território ucraniano. Apesar dos vários esforços de paz e das inúmeras sanções (nomeadamente, à Rússia), o conflito continua sem fim à vista.
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