ONU alerta que IA está a ser usada para facilitar tráfico humano
- 25/11/2025
Numa reunião de alto nível da Assembleia-Geral da ONU para avaliar o Plano de Ação Global contra o Tráfico Humano, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que esteve representado pelo seu subsecretário-geral para Políticas, Guy Ryder, indicou que o número de crianças entre as vítimas detetadas aumentou cerca de 33% desde 2019.
"O tráfico de pessoas é um crime abominável. É intolerável que os membros da nossa família humana --- incluindo os mais jovens --- sejam traficados para trabalho, serviço doméstico, casamento, criminalidade e exploração sexual", diz a mensagem de Guterres, transmitida em Nova Iorque.
Fatores persistentes, como a pobreza, a deslocação, a discriminação, os conflitos e os desastres climáticos, estão a ser agravados pela exploração de tecnologias que permitem aos traficantes "lucrar com a miséria humana com uma velocidade e um alcance sem precedentes", observou.
Entre essas tecnologias está a Inteligência Artificial, que, segundo a ONU, está a ser utilizada para recrutar, controlar e explorar as vítimas de tráfico humano.
As Nações Unidas indicaram que as mulheres e as raparigas continuam a ser a maioria das vítimas detetadas em todo o mundo e são traficadas sobretudo para exploração sexual.
Já o número de condenações por estes crimes "continua a ser alarmantemente baixo", particularmente no caso do tráfico para trabalho forçado.
Face a este cenário, Guterres delineou uma série de ações concretas para os Estados-membros combaterem o tráfico humano, a começar pelo reforço das leis e dos mecanismos de reparação, e a sua implementação eficaz, para acabar com a impunidade.
"Precisamos também de investimentos em programas para ajudar as vítimas a reconstruir as suas vidas e a lidar com o trauma que sofreram. E os Governos precisam de alocar recursos para o desenvolvimento e utilização da tecnologia para detetar, investigar e processar este crime", defendeu.
Em segundo lugar, o líder da ONU pediu uma maior colaboração internacional, incluindo mediante troca de informações e de provas entre os Estados, assim como assistência jurídica mútua, compromissos de extradição e investigações conjuntas.
Apelou também a parcerias com a sociedade civil, com a academia e com o setor privado --- incluindo empresas tecnológicas --- para detetar crimes, levar os agressores à justiça e apoiar as vítimas.
Defendeu ainda uma maior coordenação para proteger os migrantes vulneráveis do tráfico humano.
"Por fim, devemos colocar as vítimas no centro das atenções. (...) Apelo a todos os Estados-membros para que garantam que as experiências e as perspetivas das vítimas são ouvidas e refletidas nas políticas de combate ao tráfico de seres humanos e nas medidas de apoio", frisou.
A reunião de alto nível, que se prolonga até terça-feira, servirá para avaliar a implementação do Plano de Ação Global contra o Tráfico Humano, embora não sejam esperadas novas resoluções significativas.
A abertura da reunião contou com a presidente da Assembleia-Geral da ONU, Annalena Baerbock, que instou os Estados-membros a enfrentarem a "nova fronteira digital", onde os traficantes usam Inteligência Artificial, plataformas criptografadas e 'deepfakes' [técnica que permite alterar um vídeo ou fotografia com ajuda de inteligência artificial] para perpetrar esses crimes.
A diplomata alemã alertou igualmente para as falsas ofertas de emprego que alimentam cibercrimes que movimentam "40 biliões de dólares por ano" (35 mil milhões de euros anuais), defendendo o "princípio da não punição" para que as vítimas nunca sejam criminalizadas.
Annalena Baerbock pediu luta às causas profundas do tráfico de seres humanos, como a pobreza e a guerra, acrescentando: "Pessoas desesperadas enfrentam escolhas desesperadas e pessoas vulneráveis são presas fáceis".
MYMM // APN
Lusa/Fim





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