"País não precisa de bombeiros TikTok, nem de primeiro-ministro ausente"
- 27/08/2025
O secretário-geral do Partido Socialista (PS), José Luís Carneiro, disse, esta quarta-feira que o Governo "tarda em responder" a alguns projetos direcionados ao Interior, região que está a ser visitada pelo próprio, a partir da Estrada Nacional 2.
Em entrevista à SIC Notícias, o socialista alertou que o poder político tem de compreender que as instituições, nomeadamente, a Proteção Civil - e outras - "carecem do respaldo político".
"Não foi a primeira vez que o Governo deu provas de incapacidade. Aconteceu também, infelizmente, durante a gestão do apagão. A liderança política tem de ser presente: aquilo que o país precisa não é de 'bombeiros TikTok', nem de primeiros-ministros que estão ausentes", afirmou, atirando: "O país precisa de um primeiro-ministro presente e que assuma responsabilidades para garantir aquilo que é uma função fundamental do Estado: a segurança dos cidadãos e a confiança nas suas instituições democráticas".
Em viagem pelo Interior do país, pela Estrada Nacional 2, e depois de partir de Chaves rumo ao Algarve, o socialista disse que tem "ouvido um apelo muito claro a que haja, de uma vez por todas, um compromisso com a coesão e desenvolvimento do Interior do país".
Confrontado sobre o término da coordenação distrital quando assumia um papel no governo socialista anterior, José Luís Carneiro foi questionado se este 'corte' não terá também contribuído para a falta de coordenação agora a ser discutida: "Não. E a prova está em que em 2022 e 2023, e ainda em parte de 2024, com planeamento de 2023, Portugal teve dos melhores indicadores de prevenção, de planeamento e de combate aos incêndios".
O líder do PS apontou que em 2023 a projeção de meios passou para 13 minutos, quando houve anos em que eram de 20, e que esse era um indicador a olhar, apesar das críticas que, já nessa altura, eram feitas ao fim da coordenação distrital. "Os reacendimentos, que estavam acima dos 8% em 2022, conseguimos reduzi-los para 4% em 2023. Hoje passaram para 9%", afirmou, numa ideia que já tinha debatido esta tarde, durante o debate na presença do primeiro-ministro.
Carneiro "disponível" para pacto com Governo, mas exige "clareza"
Confrontando com a possibilidade de 'fechar' um pacto com o Governo na área do combate aos fogos, José Luís Carneiro disse que estava disponível para o fazer, mas antes acusou, o chefe de Governo, Luís Montenegro, e o Executivo, de "insensibilidade", nomeadamente, na altura da Festa do Pontal, alvo de críticas. Ao invés, devia estar na altura na sede nacional da Proteção Civil, defende o socialista: "O primeiro-ministro é o primeiro responsável da Proteção Civil no país, assim como é um autarca, um presidente de câmara, no seu concelho [...]. Por que razão é que o Governo permitiu a decapitação das estruturas intermédias da Proteção Civil, que já vai numa debandada de técnicos superiores altamente qualificados ao longo do último ano?"
Carneiro sublinhou, no entanto, que era preciso saber o que é que o Executivo "quer fazer", e defendeu que o PS queria saber o que é feito de propostas anteriores: "Quando o Governo explicar de fora capaz o que fez, verificamos se estamos em sintonia sobre a forma como abordamos estas matérias do desenvolvimento."
O debate sobre a coordenação do combate aos incêndios decorreu esta quarta-feira durante cerca de uma hora e meia, no âmbito da Comissão Permanente da Assembleia da República. A sessão contou com a presença do chefe de Governo, Luís Montenegro, e também com a presença da Ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, que não interveio.
Outros membros do Governo estiveram presentes, mas ausência do Ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, foi notada - e criticada pelo líder do PS, que disse que a situação mostrava "o compromisso" que o Executivo queria estabelecer.
Para além do pacto a 25 anos e de críticas sobre a ausência de medidas para os bombeiros nas 45 anunciadas na semana passada, o Governo 'ouviu' ainda a oposição a classificar a gestão feita no último mês como "incompetente".
No início do debate o primeiro-ministro garantiu que esteve "sempre no terreno", ao "leme", e, no fim, reforçou essa ideia, dizendo que para agir como tal não precisou de "vestir um casaco da Proteção Civil".
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