Professores em manifestações perdem "aura" da profissão
- 16/09/2025
"Eu não consigo perceber como é que se desvalorizou tanto, socialmente, os professores. Os professores, durante muitos anos, andaram em manifestações, com razões para isso, mas o professor é alguém que é respeitado na sociedade por ser alguém que sabe, que tem autoridade, que é respeitado por gerações e gerações de alunos. Alguém que anda em manifestações perde toda essa aura", argumentou Fernando Alexandre.
"Os professores têm de estar onde estão, mas, para isso, têm de ter condições para trabalhar", observou.
Dirigindo-se a mais de duas centenas de alunos da escola secundária Dr. Joaquim de Carvalho, na Figueira da Foz, distrito de Coimbra - a mesma que frequentou entre 1984 e 1990 - o titular das pastas da Educação, Ciência e Inovação vincou não estar a criticar os professores que participaram em manifestações, notando que os docentes "foram muito maltratados em Portugal durante demasiado tempo", em termos profissionais e sociais.
"Eu não estou a criticar os professores que participaram em manifestações, fizeram-no com legitimidade, de facto não tinham a valorização que deviam ter", argumentou Fernando Alexandre, em resposta a Rafael André, aluno do 11.º ano da área de Ciências, que quer ser médico, mas que questionou o ministro sobre como pode o Governo tornar a carreira docente mais atrativa.
"Por isso, Rafael, é por aí que começa, é valorizando socialmente os professores. O professor é uma pessoa que marca gerações. Não é por acaso que eu disse que esta escola foi, na minha vida, e já fiz muita coisa (...) mas a entrada na Joaquim de Carvalho para mim foi um momento definidor", frisou o ministro da Educação.
Entre as medidas que o Governo quer implementar e que serão alvo de negociações com as estruturas sindicais - interrompidas pela queda do anterior Governo e que serão agora retomadas - Fernando Alexandre destacou o fim das quotas nos 5.º e 7.º escalões "que, precisamente, impedem o planeamento da carreira" por parte dos docentes.
"E, sobretudo, precisamos muito de valorizar [em termos salariais] os escalões iniciais [da carreira docente], que, como acontece na generalidade da função pública, até pela competição que existe do setor privado, são valores que são relativamente baixos", disse o governante.
Sobre a falta de professores em algumas regiões do país, o ministro da Educação disse que o Governo está a colocar mais professores nas escolas, que estavam a fazer outras coisas e estão a voltar para preencher horários vagos.
"Tínhamos mais de dois mil professores que estavam em Câmaras Municipais, em imensas entidades e que eram precisos nas escolas. A regra que assumimos foi 'quem é preciso na escola, volta para a escola'. (...) Se depois a pessoa, de facto, for precisa noutro serviço, a mobilidade é dada. Se não, a prioridade é dar aula, foi o critério que definimos", enfatizou.
Destacou ainda o que nomeou de condição para o país: "Não vamos poder atingir os nossos objetivos enquanto país, se a educação não estiver estabilizada e não estivermos focados naquilo que importa, que é a qualidade da educação. E isso não é possível sem termos professores motivados, e, já agora, pessoal não docente", alegou.
No final da sessão, que incluiu uma aula sobre literacia financeira, com o tema "A poupança e a capacidade de imaginar o futuro", questionado pela agência Lusa sobre as negociações Fernando Alexandre frisou que o Governo quer que os professores tenham "uma carreira mais justa, mais transparente e valorizada", conforme acordado, no anterior Governo, com sete sindicatos e cujos eventuais acordos deverão estar concluídos em 2026.
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