Protestos após vitória de Chapo e terrorismo marcam o ano de Moçambique

  • 10/12/2025

O ano começou com a continuação dos protestos que eclodiram em outubro de 2024, após os órgãos eleitorais anunciarem a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975) como quinto Presidente, antes convocados pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que nunca reconheceu os resultados.

 

Os confrontos provocaram mais de 400 mortos em cinco meses e quase um milhar de feridos.

Para o analista e académico João Feijó, foi "a insatisfação popular" que motivou a continuação dos protestos de rua no país, ainda até meados de março, sublinhando que foram as "mais inflamadas" de sempre.

Para travar o caos, o Presidente e partidos políticos assinaram, em 05 de março, o compromisso do diálogo político para reformas em dois anos, documento antes aprovado pelo parlamento, num processo que "agora exclui Venâncio Mondlane", como recorda Feijó.

"O Governo sente necessidade de fazer uma encenação de um diálogo, procurando conquistar apoio de vários setores da sociedade, simulando que está a promover um novo pacto social, mas que está politicamente controlado. É apenas uma encenação que serve para colocar água na fervura", entende.

O analista afirma que este processo de diálogo não vai "mexer na descentralização" do aparelho do Estado, nem nas questões de fundo da exploração dos recursos, da revisão constitucional e reforma fiscal, mas sim adiar a resolução dos problemas estruturais "que se agravam com o aumento da população".

Assim, estes protestos "carimbaram" os primeiros meses de governação de Daniel Chapo, que começou com um "problema de legitimidade", tendo tentado mostrar por meses que as "eleições foram livres".

 "Não sei se realmente ele acredita que tem apoio popular ou está meramente a simular", indica Feijó, referindo que os seus primeiros meses foram marcados por "desaparecimentos" de pessoas que lideraram protestos, com "centenas que continuaram presas", mas agora libertados "de forma estranha".

Protestos que só cessaram devido à "exaustão coletiva", diz o sociólogo Jaibo Mucufo. 

"Mas este combustível pode rebentar, tenho sentimento que ele está lá, porque a maior causa foi o custo de vida e ele aumentou depois das manifestações", analisa o académico.

Em julho, Mondlane foi acusado de cinco crimes no âmbito das manifestações pós-eleitorais, com os analistas a indicarem que são para "travar" o político, mas em agosto foi oficializado o seu partido Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamola), quando um mês antes assumiu o assento como membro do Conselho do Estado, que lhe dá imunidade.

A legalização do seu partido, diz Jaibo Mucufo, é sinal de medo do Governo, que temia "novas convulsões" sociais, mas adianta que os bloqueios ao Anamola vão continuar porque "é tudo um diálogo de resistência do partido no poder, na ideia de fazer diferente".

Enquanto praticamente abrandavam os protestos, no norte os ataques terroristas em Cabo Delgado recrudesciam a partir de junho, depois de terem alastrado em abril e maio para a província de Niassa, e a partir de novembro para Nampula, também do norte.

Quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e Nampula só nos finais de setembro, segundo dados desse período da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Na perspetiva de João Feijó, são "uma continuidade" do que já acontece há oito anos. "A ideia é consolidar aquele território como local de extração de matérias-primas para as indústrias do norte global e ninguém está preocupado com a estabilidade daquele território".

Apesar dos ataques, a multinacional francesa TotalEnergies anunciou em outubro a retoma do projeto de exploração de gás natural.

Contudo, refere Feijó, a retoma do megaprojeto de 20 mil milhões de dólares (17,3 mil milhões de euros) "não vai significar grande coisa" para as comunidades de Cabo Delgado, num contexto em que não se gera empregos diretos para as populações locais.

No plano social, Moçambique foi abalado no segundo semestre pelos consecutivos homicídios, ainda sem explicação, de polícias, todos praticamente no município da Matola, arredores de Maputo.

Jaibo Mucufo alerta que estes casos acontecem na região onde se registam raptos de empresários - dez reconhecidos pelo Governo em 11 meses -, indicando que a morte de agentes pode ser um "ato interno na estrutura da polícia", uma "tentativa de queima de arquivos" face aos sequestros e violência durante protestos.

"Pode ser também má divisão de recursos que advém de uma atividade ilegal entre cartéis dentro das instituições", conclui.

Pelo meio, em 25 de junho, Daniel Chapo voltou ao Estádio da Machava, arredores de Maputo, onde Samora Machel proclamou 50 anos antes a independência de Moçambique, apelou à independência económica e elegeu o combate à corrupção como prioridade nacional.

Leia Também: Moçambique prevê aumento de 3% de rubis em 2026

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2902101/protestos-apos-vitoria-de-chapo-e-terrorismo-marcam-o-ano-de-mocambique#utm_source=rss-mundo&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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