'Resistência suave' na condenação de ex-magnata em Hong Kong
- 16/12/2025
"Eu não o conheço de algum lado?" pergunta um idoso ao jornalista da Lusa, à entrada do tribunal de West Kowloon, antes de acrescentar rapidamente: "Ah, já sei. Estava no julgamento do Wong Kin-chung".
Em abril de 2024, o português Wong Kin-chung, também conhecido como Joseph John, foi condenado a cinco anos de prisão por incitação à subversão, no primeiro caso de segurança nacional a envolver um arguido com dupla nacionalidade.
O idoso, que pediu para ser identificado apenas pelo apelido Sam por receio de represálias, foi uma das muitas pessoas que ficaram à porta da sessão do Tribunal Superior de Hong Kong.
A sala de audiências revelou-se pequena para todos os interessados, incluindo representantes do Reino Unido e da União Europeia. Antes do amanhecer, dezenas de residentes já tinham formado fila à porta do edifício para garantir um lugar.
Mas, ainda antes do veredicto, o idoso admitiu sentir que a condenação de Jimmy Lai era inevitável: "Vim porque neste momento não há mesmo mais nada que possamos fazer. Nem protestar".
O tribunal considerou o ex-magnata culpado de violar a lei de segurança nacional, imposta por Pequim em 2020 face ao movimento pró-democracia de 2019, e que levou ao fim da dissidência política em Hong Kong.
"Quem sabe, talvez um dia, não tão distante no futuro, até vir aqui assistir ao julgamento seja um crime de 'resistência suave'", acrescentou o idoso.
O conceito de 'soft resistance', ou 'resistência suave', tem sido usado pelas autoridades de Hong Kong para atacar discurso crítico do Governo ou da região em obras culturais ou organizações da sociedade civil.
Mas nem a ameaça de criminalização conseguiu abafar por completo o poder simbólico de um simples fruto.
Além de ser condenado por conluio com entidades estrangeiras, Lai foi ainda considerado culpado de "publicações sediciosas" em 161 artigos no jornal que fundou, Apple Daily (numa tradução literal 'Maçã Diária'), atualmente banido.
De madrugada, ainda antes do início da sessão do julgamento, uma pessoa não identificada entregou no edifício do tribunal uma caixa de maçãs, referiu o Hong Kong Free Press (HKFP).
O portal de notícias acrescentou que também dois ativistas pró-democracia, Tsang Kin-shing e Lui Yuk-lin, apareceram no exterior do tribunal com uma maçã vermelha na mão, numa referência ao símbolo do Apple Daily.
O Tribunal Superior de Hong Kong marcou para 12 de janeiro uma audiência, com a duração máxima de quatro dias, onde a defesa de Lai, de 78 anos, poderá apresentar eventuais atenuantes, antes de a sentença ser conhecida.
Mas uma residente, que se identificou pelo apelido Leong, disse à Lusa, após o fim da sessão, não ter dúvidas de que os três juízes -- um deles a lusodescendente Susana D'Almada Remedios -- irão condenar Jimmy Lai à pena máxima: prisão perpétua.
"Querem enterrá-lo vivo em Stanley", lamentou a mulher, numa referência à prisão de máxima segurança de Stanley, onde Lai tem estado desde que foi detido, em 2021, na maioria do tempo em regime de solitária.
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