Safari de Sarajevo. Jornalista apresenta queixa contra presidente sérvio
- 20/11/2025
O caso envolve supostos atiradores de Itália e de outros países que teriam viajado para a capital bósnia durante o cerco pelas forças sérvias de Sarajevo, nos anos 1990, para disparar, por diversão e a troco de grandes quantias de dinheiro, sobre civis desarmados.
A agência de notícias italiana ANSA avançou que o jornalista Domagoj Margetic apresentou a queixa contra o chefe de Estado sérvio aos procuradores que investigam o caso.
Nos últimos dias, como foi noticiado em Sarajevo, Margetic divulgou nas redes sociais indícios de que Vucic, então um jovem voluntário, esteve presente num dos postos militares em Sarajevo de onde, disseram testemunhas, cidadãos estrangeiros e unidades ultranacionalistas sérvias disparavam e matavam civis, num esquema descrito como um macabro "safari turístico".
Na sequência de uma queixa do jornalista e escritor italiano Ezio Gavazzeni, o Ministério Público de Milão abriu recentemente uma investigação ao caso "Sarajevo Safari" e tem vindo a recolher um número crescente de testemunhos na Bósnia-Herzegovina e noutros países.
O anúncio de uma investigação em Itália sobre supostos "atiradores de elite de fim de semana" que pagaram para disparar sobre civis durante os quatro anos de cerco em Sarajevo reacendeu as feridas da capital bósnia.
Entre abril de 1992 e fevereiro de 1996, Sarajevo foi vítima do mais longo cerco da história moderna e de uma guerra que devastou a Bósnia e causou mais de 100.000 mortos.
Vários meios de comunicação social italianos noticiaram que o Ministério Público de Milão abriu uma investigação sobre as supostas viagens de italianos ricos que atiravam do topo de edifícios contra civis presos na cidade, mas foram poucos os pormenores divulgados.
A justiça bósnia, que se ocupou das mesmas acusações em 2022, afirmou estar ainda a conduzir uma investigação própria.
No início de abril de 1992, as forças sérvias da Bósnia, que recuperaram armas do Exército Federal Jugoslavo, lançaram um cerco a Sarajevo. Em quatro anos, mais de 11.500 pessoas foram mortas na cidade, incluindo várias centenas de crianças, indicam números oficiais bósnios.
Os nomes das crianças assassinadas estão gravados num memorial no centro da cidade, numa lembrança diária da tragédia em Sarajevo.
Muitas dessas vítimas foram mortas por atiradores posicionados nas colinas em redor da cidade e a maior artéria da cidade foi batizada pelos jornalistas internacionais de "Sniper Alley" durante a guerra, constituindo uma forma de aterrorizar a população civil, explicou em várias sessões dos julgamentos o Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia.
Nenhum atirador furtivo ('sniper') foi pessoalmente responsabilizado, pois todas as condenações visaram os responsáveis e o comando.
Somando-se ao horror do cerco, os primeiros artigos que mencionavam o 'turismo de guerra' foram publicados no jornal bósnio Oslobodjenje.
A 01 de abril de 1995, na primeira página, o jornal titulou "Sniper Safari em Sarajevo". Abaixo, em várias colunas, o Oslobodjenje mencionou "testemunhos arrepiantes sobre o 'turismo de guerra'" e evocou "um oficial sérvio [que] propôs a um jornalista italiano disparar contra uma mulher idosa". "Eles preferem disparar contra crianças", lia-se noutro subtítulo.
Trinta anos depois, num artigo publicado em meados de novembro no portal da Radiosarajevo, um antigo responsável dos serviços secretos do exército da Bósnia-Herzegovina Edin Subasic contou que, em 1993, teve acesso a relatórios de interrogatórios nos quais um prisioneiro sérvio teria mencionado caçadores italianos a caminho de Sarajevo na companhia de voluntários também com a mesma nacionalidade.
"Homens ricos pagam às forças sérvias em Sarajevo para poderem disparar contra os muçulmanos", teria dito o prisioneiro, de acordo com o texto de Subasic.
Na época, não foi aberta nenhuma investigação judicial, apesar de os serviços secretos bósnios terem alertado membros dos serviços secretos italianos em Sarajevo sobre este caso, que voltou à tona décadas depois.
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