"Uma múmia". Os últimos dias da jornalista ucraniana morta em cativeiro

  • 12/12/2025

Viktoria Roshchina, a jornalista ucraniana que morreu após mais de um ano sob custódia das autoridades russas, "estava muito, muito magra" e "mal se conseguia manter de pé", durante os seus últimos dias de cativeiro. 

 

O relato é de um soldado ucraniano do regimento de Azov, libertado este verão, em declarações ao "Projecto Viktoria", uma iniciativa de vários meios de comunicação internacionais criada para investigar o desaparecimento da jornalista de 27 anos.

Mykyta Semenov contou que se cruzou com Roshchina durante o transporte para uma prisão no interior da Rússia, confirmando que as suspeitas de que a jornalista morreu depois de ter sido transportada para Sizo-3, uma prisão na cidade de Kizel, perto dos Montes Urais.

Ambos viajaram no mesmo comboio e o soldado viu a jornalista pela primeira vez num corredor, quando a jovem ia para a casa de banho. "Eu vi-a. Ela passou pelo nosso compartimento. Ela usava um vestido de verão azul claro com flores. Também usava ténis de verão com sola branca, um modelo desportivo. E levava um pequeno espelho de maquilhagem", recordou.

Roshchina andava com as mãos atrás das costas e já estava visivelmente debilitada, após ter feito greve de fome quando estava detida noutro estabelecimento russo.

"Parecia que tudo era difícil para ela: caminhar era difícil, comer era difícil, falar era difícil. Parecia que aquele vestido… que o vestido a carregava. A sustentá-la", disse Semenov.

"Estava muito, muito magra. Mal se conseguia manter de pé. Conseguia ver que já fora uma rapariga bonita, mas transformaram-na numa múmia: pele amarelada, cabelo que parecia… sem vida", acrescentou.

O soldado disse que, depois, foi colocado na cela ao lado e que identificou quem era a jovem ao ouvir as suas conversas com os guardas prisionais. Segundo contou, Roshchina conseguiu trocar comida com outros prisioneiros  com ajuda dos guardas. 

"Lembro-me que ela não comia carne. Não sei porquê. Dizia que tinha algum problema de saúde e já não conseguia digerir carne. Então, dava-nos a carne da sua refeição e nós dávamos-lhe legumes, pasta de courgette, coisas desse género", recordou.

Viktoria Roshchina morreu mais de um ano após ter desaparecido 

Segundo a imprensa ucraniana, Viktoria nasceu a 6 de outubro de 1996 e a 19 de setembro de 2024, aos 27 anos, mais de um ano após ter sido dada como desaparecida.

Trabalhava como jornalista freelancer para várias publicações ucranianas independentes, incluindo o Ukrainska Pravda e o Hromadske, onde se dedicou à cobertura dos territórios ocupados pela Rússia, incluindo Enerhodar, cidade onde está localizada a central nuclear de Zaporíjia, contou o The New York Times.

Roshchina foi detida pela primeira vez pelas tropas russas em março de 2022, quando fazia uma reportagem no sudeste da Ucrânia, mas foi libertada ao fim de 10 dias. Voltou a desaparecer em agosto de 2023, depois de ter viajado para os territórios ocupados no leste da Ucrânia.

O paradeiro da jornalista permaneceu desconhecido durante nove meses, até à primavera de 2024, altura em que a União dos Jornalistas Ucranianos anunciou que o seu pai, Volodymyr, tinha recebido a confirmação das autoridades russas que Viktoria Roshchina estava "detida no território da Federação Russa".

Em outubro do mesmo ano, o meio russo independente Mediazona, revelou que Roshchina morreu durante uma transferência de uma prisão de Taganrog, no sudoeste da Federação Russa, para Moscovo

Quem era Viktoria, a jornalista ucraniana que morreu em cativeiro russo?

Quem era Viktoria, a jornalista ucraniana que morreu em cativeiro russo?

Viktoria Roshchina morreu no passado dia 19 de setembro, aos 27 anos, mais de um ano após ter sido dada como desaparecida. Segundo a Ucrânia, a jovem jornalista estava sob custódia de autoridades russas.

Márcia Guímaro Rodrigues | 16:55 - 11/10/2024

Corpo da jornalista tinha "numerosos sinais de tortura"

Já em abril deste ano foi revelado que, "de acordo com os resultados do exame médico forense", foram encontrados "numerosos sinais de tortura e maus-tratos no corpo" da jornalista, "nomeadamente escoriações e hemorragias em várias partes do corpo, e uma costela partida", segundo adiantou o chefe do departamento de crimes de guerra do Procurador-Geral da Ucrânia, Yurii Bielousov, num vídeo divulgado pelo meio de comunicação ucraniano Ukrainska Pravd.

Os globos oculares, o cérebro e parte da laringe tinham sido retirados antes de o corpo ser devolvido à Ucrânia, e o osso hioide foi partido. Uma fonte policial ucraniana disse que poderia tratar-se de uma tentativa de encobrir a tortura, enquanto a Rússia alegou que a remoção de órgãos poderá ter-se devido a procedimentos no tratamento de cadáveres.

Zelensky atribuiu a Ordem da Liberdade a Viktoria Roshchina

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, homenageou, em agosto, a memória da jornalista ucraniana, atribuindo-lhe postumamente a Ordem da Liberdade.

"Hoje prestamos homenagem póstuma a Viktoria Roshchina. Foi agraciada com a Ordem da Liberdade pela sua convicção inabalável de que a liberdade vencerá tudo. Eterna honra e memória para Viktoria Roshchina", escreveu Zelensky na sua conta da rede social X, onde recordou que a morte da jornalista foi "dolorosa e injusta".

E prosseguiu: "Já tinha sido incluída na lista de troca de prisioneiros. A Rússia tinha prometido libertá-la, mas não cumpriu a sua palavra".

"Viktoria foi uma das pessoas que contou a verdade sobre a guerra. Trabalhou na frente de batalha e nos territórios temporariamente ocupados, arriscando a vida", recordou Zelesnky na sua mensagem, na qual incluiu uma fotografia da jornalista.

Leia Também: Adesão da Ucrânia à UE é "inevitável" e Hungria não deve interferir

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2902819/uma-mumia-os-ultimos-dias-da-jornalista-ucraniana-morta-em-cativeiro#utm_source=rss-mundo&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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