Unicef preocupada com possível crise de saúde em Gaza devido a mau tempo

  • 20/12/2025

"A situação nos últimos dias tem estado realmente horrível para as crianças aqui da Faixa de Gaza, por várias razões", disse o diretor de comunicação da Unicef, Jonathan Crickx, em entrevista à agência Lusa, a partir do sul do enclave palestiniano.

 

"Houve uma tempestade e ainda há chuvas e ventos muito fortes, o que significa que todas as tendas estão molhadas, algumas delas completamente inundadas", contou, adiantando que a situação afeta 750 mil a um milhão de deslocados, na sua maioria pessoas que já tiveram de mudar-se em diversas vezes e que praticamente só têm o que tinham vestido quando fugiram.

"Temos muitas crianças que têm apenas uma ou duas mudas de roupa e estão a viver em tendas improvisadas, de plástico ou lona, e os colchões onde dormem estão molhados, as roupas estão molhadas, os cobertores estão molhados, as tendas estão molhadas", descreveu Jonathan Crickx.

A situação "é extremamente grave", referiu o responsável da Unicef, que está a cumprir a sua quinta missão de ajuda em Gaza.

"As crianças, especialmente os bebés, podem morrer de hipotermia", sublinhou, acrescentando que a temperatura à noite ronda os 8º centígrados.

Por outro lado, as condições de higiene e saneamento, conjugadas com o facto de muitas crianças terem sofrido de fome nos últimos meses, torna "muito propícia a propagação de doenças transmitidas pela água", disse, admitindo que a organização está apreensiva pela possibilidade de haver uma crise de saúde pública.

"É uma grande preocupação porque, muitas vezes, as famílias têm de escolher entre comprar sabão ou comprar comida. Também porque não há casas de banho suficientes, nem retretes suficientes, há muito lixo por todo o lado porque todo o sistema de gestão de resíduos não está a funcionar tão eficientemente como costumava", explicou Jonathan Crickx.

"Há muitos esgotos a céu aberto, às vezes junto às tendas, e, com a água, inunda tudo, juntamente com lixo. Portanto, sim, é muito preocupante. Estamos muito, muito preocupados com o aparecimento e a propagação de doenças transmitidas pela água", reiterou.

Embora garanta que a Unicef está a trabalhar arduamente para bombear a água suja e restaurar a canalização, Jonathan Crickx avisou que "há muito trabalho pela frente", porque "o nível de destruição é imenso".

Face à situação, "é necessário um enorme esforço da comunidade internacional", alertou o responsável.

"Mesmo com o cessar-fogo [em vigor desde 10 de outubro], a situação é absolutamente dramática para milhares e milhares de crianças", disse, referindo que "o cessar-fogo está longe de ser perfeito".

Ainda assim, Jonathan Crinckx considera que o acordo entre Israel e o grupo islamita Hamas "trouxe um pouco de alívio às crianças" e permitiu às organizações humanitárias levar mais coisas para a Faixa de Gaza.

"Conseguimos trazer 250.000 'kits' de roupa quente [cada 'kit' é composto por uma camisola, uns sapatos, um gorro e um cachecol] para proteger as crianças das condições de inverno, o que não é mau. Também conseguimos trazer lonas, que algumas pessoas estão a utilizar para criar abrigos, além de 7.000 tendas e cerca de 500.000 a 600.000 cobertores", adiantou.

No entanto, alertou, "isso ainda não é suficiente porque a escala das necessidades, especialmente daquelas famílias que vivem nas tendas, é enorme".

Por outro lado, ainda há artigos que não podem ser levados para Gaza, como por exemplo, grandes escavadoras, máquinas pesadas para remover toneladas de lixo e material escolar.

"Cadernos, lápis, réguas e borrachas não são permitidos na Faixa de Gaza há dois anos porque a educação não é considerada uma necessidade crítica", lamentou o diretor de comunicação da Unicef, referindo que a educação é uma preocupação latente entre a população.

"Conheci muitas mães aqui em Gaza e, assim que as necessidades básicas dos seus filhos são satisfeitas, a primeira coisa que perguntam é quando é que as escolas vão reabrir", relatou.

"A educação é fundamental e é muito importante que as crianças saiam das ruas e possam construir um futuro para si próprias", argumentou o responsável da Unicef, lembrando que "os níveis de educação eram muito bons em Gaza antes da guerra".

A Faixa de Gaza foi alvo de uma tempestade polar na semana passada que provocou a morte de pelo menos 11 pessoas, além de deixar várias outras feridas e de danificar tendas e edifícios.

A tempestade provocou o desabamento de casas e danificou dezenas de tendas utilizadas por pessoas deslocadas devido à ofensiva militar israelita realizada após os ataques do grupo islamita Hamas a 07 de outubro de 2023, que deram início à guerra na região.

Estas mortes aconteceram sobretudo no campo de deslocados de Al-Shati, onde também se registaram derrocadas.

Na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, um bebé de oito meses morreu devido às baixas temperaturas sentidas na região, depois de a tenda onde vivia a família ter ficado danificada pelas chuvas.

A situação levou o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, a alertar para o risco de surtos de doenças, sobretudo problemas respiratórios entre crianças, idosos e doentes.

A Agência das Nações Unidas de Ajuda aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA) lamentou que as condições de vida em Gaza "tenham piorado devido às fortes chuvas e às difíceis circunstâncias resultantes do genocídio israelita em curso nos últimos dois anos" e apelou a ajuda à população.

Também a organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional lamentou a situação, que atribuiu às "restrições contínuas de Israel à entrada de materiais essenciais para reparar infraestruturas vitais", como avançou em comunicado divulgado esta semana.

Leia Também: Defesa Civil de Gaza anuncia 5 mortos num ataque israelita a escola

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2907667/unicef-preocupada-com-possivel-crise-de-saude-publica-em-gaza-devido-a-mau-tempo#utm_source=rss-mundo&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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